Viajar na idade média sempre
constituiu um problema. Caminhos de terra batida facilmente destruídos pelos
temporais, com muitos rios cortando os itinerários, as elevações e serras
dificultando a progressão, viajar devia ser de facto uma grande aventura.
A passagem dos rios era, nos
locais onde não havia pontes, garantida pelas “barcas de passagem”.
Na idade média, a constituição
ou manutenção de barcas de passagem eram “serviço
de Deus”, havendo assim muitos legados pios para a sua manutenção. Sabemos que
a barca de Porto de Rei (tal como as de Barqueiros e Moledo) foi instituída
pela rainha D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques. Esta barca era gratuita (barca
de por Deus), tendo a rainha deixado em testamento para manutenção da mesma
quatro casais em S. Martinho de Mouros. A barca era servida por três
barqueiros, havendo a obrigatoriedade de, quando faltasse um deles o concelho o
substituísse de imediato.
No entanto, no reinado de D. Fernando,
alguns homens poderosos do concelho dirigidos por João Rodrigues Portocarrero
retiraram do serviço da vintena do concelho (vintena era o conjunto de vinte fogos em que os concelhos estavam
divididos para efeitos judiciais ou fiscais) um Pedro Domingues, substituindo-o
pelo barqueiro de nome João Dias, desfalcando assim o pessoal afecto à barca. A
população sentiu-se prejudicada pois consideravam o barqueiro como pessoa
diligente e sempre pronta ao serviço e o concelho e homens bons reclamaram para
o então regente, Mestre de Aviz.
Este determinou que a situação
anterior fosse retomada e decidiu que os juízes do concelho repusessem de imediato
a situação e que João Dias retomasse de imediato o seu lugar.
A carta de D. João, de 6 de
dezembro de 1385, reforça ainda a sua decisão com o privilégio do barqueiro não
servir naquele ou noutro qualquer serviço.
Chancelaria de D.
João I, livro 1 folhas 166