segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Um pouco de história

Quando pensamos que conhecemos tudo sobre a nossa terra, acontece alguma coisa que nos vem revelar que afinal isso não é verdade.
Na continuação da investigação de que falei no "post" anterior, ao folhear jornais do Porto do século XIX fui sendo confrontado com a existência de um "Batalhão Nacional de Resende" que era comandado pelo Administrador do Concelho de S. Martinho de Mouros.

Havia que "pegar" no assunto e ver do que se tratava.
Depois da revolução da Maria da Fonte seguiu-se a guerra civil conhecida como Patuleia em que Setembristas e Cartistas se confrontaram sobre a constituição da monarquia e a forma de governar o país.
É nesse contexto que aparecem as referidas notícias sobre o Batalhão Nacional de Resende formado para combater ao lado da Junta do Porto que se opunha ao governo de então. Uma espécie de revolta de esquerda contra um governo de direita (na época).

A primeira indicação de organização militar no âmbito das juntas governativas formadas com a revolução da Patuleia e referente a Resende, aparece no jornal do Porto “A Estrela do Norte” de 15 de Outubro de 1846 e referem a organização de forças populares nos concelhos de Resende e S. Martinho de Mouros, ao mesmo tempo que se formavam 4 companhias de Atiradores do Douro com cerca de 400 elementos de Portelo de Cambres, Samodães e Penajóia.
No mesmo dia mas no jornal “O Nacional”, surge uma noticia que informa ter sido o barão de Castro D’Aire nomeado comandante de todas as forças populares dos concelhos de Aregos, Resende, S. Martinho de Mouros, Castro D’Aire, S. Fins e Cinfães para manter a ordem nos concelhos e “dos voluntários entre os 18 e 25 anos para formar colunas volantes e operar fora dos concelhos”.
No jornal “A Estrela do Norte” em 23 de Novembro de 1846 refere-se a formação de companhias de voluntários em Resende, Aregos e Cinfães que se encontravam em quartéis e adstritas ao batalhão de Castro Daire.

No mesmo jornal insere-se uma notícia sobre a participação num combate perto de Moimenta da Beira de cerca de cinquenta elementos de S. Martinho de Mouros em 6 de Janeiro de 1847, incluídos no batalhão de Castro Daire.

A organização do batalhão e a nomeação das suas chefias constam de:
  • jornal “O Nacional” nº 49 de 2 Março de 1847

Quartel-general do Porto 15 de Fevereiro de 1847
Por Portaria de 29

Batalhão Nacional de Resende

Tenente-coronel comandante Justiniano César Osório
Capitães 1ª companhia José da Cunha Mendes
2ª companhia José Joaquim Pinto da Fonseca
3ª companhia João Teixeira Pinto Ribeiro
4ª companhia Frederico Silva Cardoso Vasconcelos

Tenentes António Cândido Vieira Xavier
António da Piedade Teixeira Cabral
José Campelo

Alferes Luís Pinto de Almeida e José Pereira Pinto Casanova

  • jornal “O Nacional” nº 89 de 21 Abril 1847

Quartel-general do Porto 19 de Abril de 1847

Batalhão Nacional de Resende

Capitães 4ª companhia Manuel Pinto Vasconcelos
5ª companhia Frederico Silva Cardoso Vasconcelos

Tenentes Francisco Rodrigues Camilo
António Amaral Sousa Pinto

Alferes Vitorino Pinto Ribeiro
Joaquim Ferreira Almas
António Jorge Gouveia Osório


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Pensando bem ...

Uma tarde passada no Arquivo Distrital procurando um processo de um trisavô que a "lenda familiar" fazia preso pelo regime de D. Miguel acabou por dar frutos, embora canalizado para outras fontes.
Mas o que é mais significativo é ter encontrado outros processos de pessoas de S. Martinho de Mouros (algumas do concelho que existiu até 1855).
Que levaria pessoas de uma localidade tão fora dos centros de poder a enfrentar a "situação" então existente em Portugal? Fomos sempre levados a pensar pelos livros escolares que as zonas rurais eram todas pelo rei absolutista, sendo apenas os urbano/litorais os apoiantes dos "pedristas".
Quando pensamos naqueles que no tempo do Estado Novo também deram tudo por um ideal e a sua maior parte eram, para além dos operários, rurais das zonas mais pobres do país mas com uma forte consciência dos seus interesses, então talvez possamos compreender que as generalizações a que no dia a dia nos habituamos são perigosas por não corresponderem na maior parte das vezes à verdade.
Como homenagem, aqui ficam os nomes que encontrei:
António Cardoso Pinto de Magalhães, proprietário de Barrô concelho de S. Martinho de Mouros (o meu trisavô) preso na Relação do Porto entre Set de 1830 e Jun de 1831, julgou-se-lhe expiada a culpa contando a prisão anterior em Lamego, ficando sujeito a seis meses de vigilância pela policia local;
António Rodrigues Osório Bacharel e Sargento Mór de ordenanças, natural de S. Martinho de Mouros preso na Relação do Porto entre Nov de 1830 e Fev de 1831, absolvido por falta de provas;
Joaquim Correia Cardoso Monteiro, negociante do concelho de S. Martinho de Mouros apresentou-se voluntariamente no Aljube do Porto em Nov de 1830 e foi solto por falta de provas em Mar de 1831;
Alexandre Azevedo Coutinho e Faro, proprietário de S. Martinho de Mouros, em Ago de 1830 sua esposa enquanto sua defensora apresenta a sua defesa, sendo absolvido em Set do mesmo ano, ficando sujeito a vgilância do Corregedor da Comarca de Lamego;
António Cardoso Mesquita do concelho de S. Martinho de Mouros, foi-lhe passada Carta de Éditos em Fev de 1831. Estava afortunadamente "ausente";
José Cardoso Taveira, Bacharel de Barrô concelho de S. Martinho de Mouros, foi-lhe passada Carta de Éditos em Dez de 1830. Também, afortunadamente estava "ausente".

sábado, 22 de agosto de 2009

Dá que pensar

Uma noticia na net e um trabalho do Expresso de hoje obrigam-nos a pensar na nossa cada vez mais precária privacidade.
No dia a dia nem pensamos que o simples ligar do telemóvel nos deixa inevitavelmente localizados. O simples andar na rua sem destino passou a ser um passeio seguido. O usarmos a "via verde", o irmos ao multibanco, o abrirmos a garagem do prédio, tudo isso deixa a nossa visa a nu.
George Orwell afinal estava certo!
Mas o que nos levou a esta situação?
A busca de uma vida menos dura, a exigência de uma cada vez maior segurança, a sede de conhecimento, tudo isso leva a que demos cada vez menor atenção à privacidade na nossa vida. Quando assistimos às deploráveis "cenas" das revistas chamadas "cor de rosa" onde as vidas privadas são, voluntariamente ou não, devassadas sem piedade, porque nos preocuparmos com estas "mariquices" de saberem ou não onde estamos e o que fazemos?
Deixar o telemóvel? Livra!
Usar o mapa em vez do GPS? Por amor de Deus esse tempo já lá vai!
E assim alegremente vamos transferindo partes de nós mesmos para o Big Brother que tão pouco nos agradece essa nossa disponibilidade.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Modos de estar

Há sempre uma certa nostalgia quando regressamos ao local onde nascemos ou onde a família tem as suas raízes. Foi o que me aconteceu na passada semana que passei pertinho de Lamego, não longe da minha S. Martinho de Mouros natal.
Dias quentes, com o rio a passar ao fundo na Régua em festa à Senhora do Socorro, os emigrantes em férias a encher as estradas e a aldeia, parecia estarmos noutro país.
A crise. Claro que a crise estava em todas as conversas, mas não eram as conversas de desalento, de derrotismo à partida, eram pelo contrário conversas de esperança, de vontade de ir à luta, cheias de vida.
Se todos os portugueses fizessem um "estágio" na emigração antes de entrarem na vida activa no país, como Portugal seria diferente.

domingo, 9 de agosto de 2009

Raul Solnado

Morreu Raul Solnado.
Os meios de comunicação social têm dado conta das várias facetas de um homem e de um artista que marcou o teatro português.
Mas não podem, de maneira nenhuma, dar conta do que era ouvir a "História da minha ida à guerra" enquanto participante de uma guerra ( neste caso a colonial). Era como que um rir de nós mesmos, um descomprimir comprometido.
Vai deixar muitas saudades Raul Solnado.

A abrir

Porquê escrever um blogue?
Podemos colocar a mesma questão quanto a escrever um diário.
Por por escrito ideias, modos de ver as coisas, episódios de vida, etc.
Nada mais pretendo deste espaço, apenas de vez em quando, colocar aqui tudo aquilo que for prendendo a minha atenção e a minha visão dessas questões.

Durará enquanto me sentir motivado para o fazer.