Faz hoje setenta e três anos que começou a funcionar o Campo do Tarrafal. Foi em 29 de Outubro de 1936 que chegaram ao campo os primeiros presos (152) que haviam saído de Lisboa em 18 desse mês no navio cargueiro "Luanda", habitualmente utilizado para transporte de gado.
Entre estes, com apenas 17 anos, estava Edmundo Pedro que nas suas "Memórias" relata assim a chegada:
"Atravessamos a vila do Tarrafal por entre a evidente curiosidade dos habitantes locais. Paravam para nos ver passar. Eram afastados do caminho com ameaças e agressões. O aspecto fisico e a roupa que vestiam denunciavam a miséria do seu quotidiano de incríveis provações."
"Quando avistamos as instalações do campo de concentração tornou-se visível, muito perto dele, o perfil inconfundível do cemitério local. Não atribuí a essa circunstância qualquer significado especial. Não me passou pela cabeça a ideia, a que alguns testemunhos aludiram, de que a escolha do local para a isntalação do presídio tivesse sido influenciada por essa proximidade."
O que é certo é que até o seu encerramento em 1954, 37 dos presos morreram fruto do trabalho forçado a que estavam submetidos, precárias condições de saúde e falta de cuidados médicos.
Recordem-se todos na figura de Bento Gonçalves que foi Secretário geral do PCP entre 1929 e 1942 e que morreu no Campo do Tarrafal em 11 de Setembro de 1942.
Mas as coisas não poderiam ficar por aqui. Em 1961 o campo foi reaberto para receber prisioneiros oriundos das ex-colónias. Nova época de terror e dor.
O 25 de Abril de 1974 acabaria de vez com a vergonha.
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