terça-feira, 26 de janeiro de 2010

S. Martinho de Mouros – à volta da sua história

No decurso dos últimos anos tenho feito uma investigação genealógica da minha família. Como um dos principais ramos da linha materna tem origem em S. Martinho de Mouros (local onde também nasci), fui conhecendo o passado da terra e a sua rica história ao longo dos tempos.

Nos muitos documentos e livros que li encontrei muitos episódios que, por serem interessantes para a história da terra, me proponho apresentar aqui.

De tudo o que li ressalto por serem do maior interesse os livros do Padre Joaquim Correia Duarte sobre o concelho de Resende, “Resende e o seu concelho” 2 volumes 1994, “Resende na Idade Média” 2001 e “Resende no século XVIII” 2004, todos em edição da Câmara Municipal de Resende.

S. Martinho de Mouros foi habitado desde tempos remotos, apontam-do-se para que os primeiros habitantes tenham sido Lígures (pré-celtas), a que se seguiram povos celtas, romanos e mouros (essencialmente berberes).
Deve ter sido um local de forte interesse económico (para além de militar) pois na estação arqueológica da Mógueira foram encontrados vestígios de fornos de depuração de metais e escórias resultantes da fundição dos mesmos.
A existência de partes de uma via romana (restos a partir do largo da Feira Nova e no antigo caminho para a Fogueira) podem levar a supor que por aí passasse a via de ligação entre as margens norte e sul do rio Douro (estrada de ligação de Guimarães a Lamego). Não podemos esquecer que posteriormente, do testamento do rei Afonso Henriques consta uma dotação para que fosse construída uma ponte no Bernardo da vizinha freguesia de Barrô para ligação entre as duas margens do Douro.

No final do século X e início do século XI, a zona estava nas mãos dos muçulmanos depois da reconquista de Al Mansur (o Almançor da Crónica dos Godos). Foi Fernando Magno de Leão que, logo a seguir à conquista de Lamego, ocupou o castelo de S. Martinho de Mouros em 24 de Julho de 1058 conforme a referida Crónica dos Godos. Esta data está em contradição com a do foral dado pelo referido rei em 1057, possivelmente a uma população de mouros ou moçarabes, razão para o topónimo que se prolongou até hoje.

De notar que entre os séculos VIII e X a sul do Douro podem ter-se mantido algumas comunidades de agricultores em que a hierarquização e sobreposição de senhores (leigos ou religiosos) às populações autóctones foi muito tardia.
Na periferia destas comunidades existiriam grupos de caçadores ou pastores mais ou menos errantes (a morfologia do terreno assim o aponta - serras de Montemuro e Meadas) que os ataques constantes das tropas muçulmanas por um lado e dos cristãos pelo outro obrigariam a recolher-se atrás de muralhas.
Estes povoados somente em meados do século XI foram definitivamente incorporados no território cristão (daí o foral de 1057), apesar de haver notícias da conquista do seu castelo em 877 por Afonso III das Asturias, mas que se terá de novo perdido nos finais do século X por acção de Almançor (os castelos de Lamego, Tarouca, S. Martinho Mouros, Numão, etc reconquistados por Al Mansur, constituíam então a linha de fronteira).
S. Martinho de Mouros poderia pertencer à Taifa de Badajoz, estando no entanto situada numa zona que se poderia considerar como “terra de ninguém” na fronteira com o reino cristão de Leão e Galiza.

É em 1111 (ou segundo outras fontes em 1121) que D. Teresa, condessa de Portugal dá foral a S. Martinho de Mouros.

Mas isso fica para o próximo “post”

Para a redacção deste "post" consultaram-se a História de Portugal direcção de José Matoso, Circulo de Leitores 1993, História de Portugal de Alexandre Herculano e Mário Jorge Barroca “ Do castelo da reconquista ao castelo românico sec IX - XII” publicado na revista Portugália ( nova série ), volume XI - XII paginas 89 - 136.

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