quarta-feira, 30 de setembro de 2009

E agora?

A aguardada mensagem do Presidente da República que iria esclarecer toda a questão das pretensas escutas, acabou por lançar ainda mais confusão no espírito das pessoas.

Quando o que se pretendia era saber se houve (há) ou não escutas e quem as patrocinou (na), acabamos por ficar a saber aquilo que todos os que usam as comunicações por "e-mail" já sabem, são vulneráveis.

Pelo menos ficamos a saber que quando lermos notícias fornecidas por "fontes de Belém", fontes autorizadas da Presidência da República", etc, podemos desvalorizá-las, pois não são d autoria de quem as deve fazer. Valha-nos isso a nós, para mal de determinados meios de comunicação social.

Sobre as tentativas de "colar o Presidente à campanha do PSD" ficam também algumas dúvidas. Não foi na página do PSD que surgiram as notícias de assessores da Presidência estarem a colaborar com o partido? Não foi no SOL que sairam tais notícias? Não se viu ninguém de Belém a desmentir essas referências no imediato.

É isso que incomoda.

Uma breve declaração logo em Agosto a desmentir estas situações teria resolvido o problema e esvaziado logo o balão.

E agora?

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Rescaldos

Apesar da vitória, que não nego me deixou contente, os tempos futuros vão ser muito difíceis para o país e principalmente para quem vai ter a responsabilidade de governar.

A envolvente económica não vai recuperar tão depressa e a financeira corre riscos de colapsar outra vez se continuarem os comportamentos que as subidas das bolsas prefiguram.

Esperemos que as oposições, especialmente as de esquerda, assumam ,sem segundas intenções, as suas responsabilidades.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Nem assim

Ainda a crise não acabou e parece que se esquecem as verdadeiras razões da mesma. Dá que pensar o artigo que o jornal I hoje publica da autoria de Paul Krugman.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Gripe H1N1




Aconteceu a primeira morte provocada pelo vírus da gripe A.


Embora o quadro clínico do paciente fosse difícil e qualquer infecção pudesse levar ao mesmo desfecho, parece ter sido o vírus H1N1 o responsável.


Com um total de 2 213 casos confirmados, esta primeira morte volta a colocar a gripe nos top das notícias e vamos voltar a te-la nas aberturas dos telejornais (a não ser que o caso "das escutas" tenha desenvolvimentos excepcionais.


segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Trapalhadas


Esta história fica muito mal contada.
É muito difícil entender como se chegou a esta situação, principalmente tendo em conta a habilidade política até hoje demonstrada pelo Presidente da República.
Fica-nos um "amargo de boca" que vai ser muito difícil de esquecer nos tempos mais próximos.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Perplexidades

Esta questão do TGV deixa-me perplexo.

Em primeiro lugar Portugal, país respeitável, assinou um acordo com a Espanha para a construção da ligação à rede daquele país de, salvo erro, 4 linhas de alta velocidade ferroviária. Depois, certamente por acordo, essas linhas passaram a duas.

Agora pretende-se rasgar o compromisso assumido, presume-se que livremente, pelo governo português do pé para a mão.
Então nas relações entre países não existem as vias diplomáticas, os canais informais, as negociações, etc?
É a imprensa que trata disso?

Outra questão é o interesse na construção das duas linhas.

Quem hoje ande pelo aeroporto Sá Carneiro apercebe-se facilmente da quantidade de passageiros da Galiza que por ali andam. A criação pela RYANAIR de um centro em Pedras Rubras acaba por dar maior visibilidade a esse afluxo de passageiros. Estive no aeroporto numa das últimas manhãs, bem cedo por sinal, e apercebi-me do movimento de galegos, autenticas excursões nos balcões daquela companhia.
No que respeita a mercadorias não posso, por absoluta falta de conhecimento, pronunciar-me, mas aceito como boas as razões tantas vezes trazidas a público pelo presidente da Associação Comercial do Porto.

Será que nos argumentos que hoje andam por aí estes dados são tidos em conta?

É certo que o país se esta a endividar a um ritmo nada desejável, no entanto este facto não pode ser esgrimido apenas quando nos dá jeito.
Alguém analisou já, sem distorções partidárias, todo o processo? O financiamento da EU é assim tanto que dê para recusar? Vai acontecer neste século XXI o que aconteceu no século XIX com a rede ferroviária?

Independentemente das eleições, gostava de perceber.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Nine Eleven

Faz hoje oito anos que o mundo mudou.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Um pouco de história (V e último)

Em 25 de Abril novos combates referidos em comunicado assinado no quartel em Barrô, combates esses que se sucederam entre a barca do Carvalho, Molães na Penajóia e a igreja de Barrô.
Nesse comunicado são louvados o capitão da 2ª companhia José Joaquim Pinto da Fonseca, o tenente António Cândido Xavier e os alferes Vitorino Pinto (ferido) e José Pereira Pinto. É também louvado o voluntário Joaquim Rodrigues Soldadinho.

Vejamos o relatório do comandante das forças de acordo com o “Nacional” nº 102 de 6 de Maio de 1847:

Ilº e Exmº Senhor – Tenho a honra de levar ao conhecimento de V.Exª que tendo-me dirigido e pernoitado em Molães da Penajóia com as forças do meu comando no destino de colher informações exactas e cair de surpresa sobre o piquete que os rebeldes haviam postado na barca do Carvalho achando-me ainda acampado entre a serra de Barrô e a igreja de Santo António da Penajóia pressenti o fogo dos meus piquetes sobre o inimigo que marchava em grande força sobre mim tendo premeditado e tomado mesmo todas as convenientes medidas para me cortar ambos os flancos, sem perda de um momento mandei carregar o inimigo na ala direita e esquerda enquanto que fiz retirar o centro para lhe tomar a frente e habilitar-me para o combate que já era inevitável tanto para salvar o piquete como para facilitar a passagem às tropas fieis que do meu arraial estava vendo marchar sobre a estrada da Régua. Por espaço de ¾ de hora 200 homens livres disputaram o terreno a 500 escravos e 50 cavalos comandados pelo Casal, mas conhecendo logo a grande desproporção de forças e vendo que a coluna de tropas fieis não desfilava sobre a margem do Douro em meu auxílio mandei tocar a retirar e efectivamente retirei sobre a igreja de Barrô fazendo sempre o mais vivo fogo ao inimigo que pagou caro a sua ousadia perdendo alguns mortos e muitos feridos que fez conduzir à cidade de Lamego bem como alguns cavalos .A todos parecia inevitável a perda do batalhão de Resende que o ex Barão do Casal prometera agarrar á mão assim como fizera aos móveis dos pacíficos habitantes de Agrela e Vilarandelo mas eu posso afirmar a V.Exª que apenas tive um soldado morto e um oficial ligeiramente ferido no braço esquerdo. O fogo durou 2 horas (mais ou menos) durante as quais as forças do meu comando mostraram o mais vivo entusiasmo sendo superior a quanto pode imaginar-se a valentia denodo e coragem dos meus oficiais que todos foram soldados, todos largaram as espadas para tomar a espingarda e todos fizeram os maiores serviços já animando os soldados já fazendo vivo fogo ao inimigo. São especialmente de louvar o capitão da 2ª companhia José Joaquim Pinto da Fonseca, o tenente António Cândido Xavier, os alferes Vitorino Pinto (ferido) e José Pereira Pinto e o voluntário Joaquim Rodrigues Soldadinho.
Quartel em Barrô 25 de Abril de 1847 = Justiniano César Osório administrador do concelho de S. Martinho de Mouros e tenente-coronel do batalhão de Resende."

A partir daqui as notícias nos jornais do Porto escasseiam. A intervenção da Quadrupla Aliança com a entrada em Portugal das tropas espanholas em auxílio do governo, a detenção pela esquadra inglesa do Conde das Antas presidente da Junta do Porto, a convenção de Gramido que pôs termo à guerra civil ocuparam mais a atenção dos jornais que algumas (poucas) acções militares. Seguiram-se, como sempre lutas de vingança entre vencidos e vencedores, mas essas já não eram do interesse da imprensa.

Mas este último relatório de Justiniano Osório acaba por entroncar na minha família. O voluntário Joaquim Rodrigues Soldadinho pertencia à família de minha trisavó materna Maria Clara Rodrigues nascida em Córdova, Paus em Junho de 1817.

Voltas que o mundo dá.


terça-feira, 8 de setembro de 2009

Um pouco de história (IV)

Em 10 de Março um forte ataque das forças de Lisboa comandadas pelo coronel Lapa e pelo conde de Vinhais lançado da margem direita do Douro face ao lugar do Bernardo na freguesia de Barrô e outro pela serra das Meadas rumo a S. Martinho de Mouros, obriga o batalhão a ocupar estas localidades. O combate prossegue no dia 10 e de manhã combate-se no lugar de Vilar da dita freguesia de Barrô onde as forças governamentais são repelidas. A luta prossegue de tarde com as colunas do conde de Vinhais a atacar e ocupar o monte e capela do Senhor do Calvário. Depois de rijas lutas são desalojados e expulsos em direcção a Pardelhas. A luta prossegue com perseguições por parte do batalhão de Resende em direcção a Paus e Lamego.
O jornal "O Nacional" seguinte, nº 61 de terça-feira 16 de Março, podemos ler a seguinte noticia:

No sábado passado (13 de Março) de tarde depois da chegada do Vinhais à Régua, projectou este bater, surpreender e derrotar o Córdova (o tenente coronel Justiniano era natural do lugar de Córdova na freguesia de Paus do então concelho de S. Martinho de Mouros como já se disse) pelo que fez descer pelo rio abaixo uma força de linha e marchar de Lamego e Portelo a força do Marçal, caçadores, clavineiros e alguns cavalos em diferentes direcções ao sítio onde o Justiniano se achava que era o mesmo que antes ocupava. Este teve logo aviso deste movimento e esperou-os acautelado e julgando muita gente que lhe era impossível uma retirada sem muito risco porque parecia flanqueado e cortado pela força que desceu pelo rio, não sucedeu assim, mas pelo contrário os bateu e fez retirar vergonhosamente. Primeiro que tudo veio atacar a força ao rio que pôs em precipitada retirada e depois foi atacar em S. Martinho a que tinha saído por Lamego e Portelo à qual fez o mesmo favor, trazendo-os até perto de Lamego debaixo de fogo durando todo este acontecimento uma tarde e quase um dia”

Mas demos a palavra ao comandante da força em ofício dirigido ao chefe de Estado Maior no Porto e constante do jornal “O Nacional” nº 62 de quarta feira 17 de Março:

Exmo Senhor – Levo ao conhecimento de V. Exª que no dia 9 do corrente o Ilustríssimo Senhor Júlio do Carvalhal ordenou que no dia 10 ao amanhecer ocupasse a parte do Moledo para o coadjuvar na sortida sobre a Régua: e não podendo comparecer na hora indicada por me não ter sido entregue o dito ofício senão às 10 horas do dia 10, resolvi assim mesmo, ainda que tarde, marchar para aquele ponto: cheguei às 11 horas ao sítio do Bernardo e sabendo aí que a sortida já se havia feito e as forças fiéis já se haviam retirado para Amarante, fiquei indeciso sobre o destino a seguir: fiz alto naquele lugar e avistando dali nas eminências de Santa Marinha as forças do Vinhais que caminhavam sobre Mesão Frio retrocedi para o lugar de Barrô onde pernoitei a distância de três quartos de légua da força inimiga. No dia 11 recebendo parte que o Vinhais destacara forças para a margem direita do Douro a operar sobre os barcos, tomei a posição da Massorra(?) donde pudesse orientar-me acerca das operações do inimigo: e recebendo ali noticia de que 200 soldados inimigos de infantaria 9, caçadores 2 e clavineiros haviam passado para a margem esquerda no mesmo sítio do Bernardo com vistas de me atacarem e ouvindo pouco depois romper o fogo junto ao lugar de Vilar com soldados meus que andavam fazendo reconhecimentos, cuidei logo de dividir toda a minha força que ali se achava em número de 150 – em três pelotões – mandando o primeiro comandado pelo capitão José da Cunha Mendes da primeira companhia atacar pela frente ao inimigo, mandei o segundo comandado pelo tenente António Cândido Vieira da segunda companhia a servir de reserva e conservei o terceiro de meu comando com o fim de ocupar aquela posição por onde os inimigos retirassem. Junto á igreja de S. Martinho de Mouros pelas 3 da tarde principiou um vivo fogo com o primeiro pelotão o qual dividindo-se em flancos pode ganhar a boa posição em que se encontrava o inimigo pondo-o em completa e vergonhosa fuga sofrendo um aturado tiroteio dos meus valentes que os seguiram corajosamente em distância de uma légua até que durou o dia. Acabado o fogo vim com a minha força do Alto da Mesquitela até onde chegamos a pernoitar em S. Martinho conservando-me ali até às 3 horas da manhã em que recebi a noticia que Vinhais, Lapa e Marçal tentavam atacar-me com todas as suas forças tomei nova posição no povo do Bairro a distância de um quarto de légua para a retaguarda e ali me conservei até às 7 horas da manhã e recebendo ali as noticias de que o inimigo se aproximava, me preparei para o bater e logo que o avistei no sítio do Calvário em número pouco mais ou menos de 250 soldados de linha e 30 cavalos, me aproximei a eles quase em distância de tiro de bala com toda a força do meu comando, tendo-se-me a ela anexado as forças de Resende e Aregos. Porém recebendo a notícia confidencial que um capitão do 9 de infantaria com 100 praças e 10 cavalos tinha seguido de Lamego a caminho de Feirão com vistas de me cortar a retaguarda ordenei a retirada com propósito de bater primeiro esta força do que a da frente se primeiro a encontrasse o que não consegui porque chegando ao lugar de Passos no concelho de Resende aí soube que o inimigo informado dos meus planos e que em virtude dele não poder cortar-me voltara para Lamego do que tudo fui ciente assim como que as forças da frente tinham caminhado às 3 da tarde para a freguesia de Paus e que os generosos habitantes meus patrícios e vizinhos lhes tinham feito fogo de emboscada, parti imediatamente para os atacar chegando a horas, ou surpreende-los de noite aproveitando o perfeito conhecimento que tinha das povoações e do bom espírito que as animava, o que não pude conseguir por se terem retirado vergonhosamente com o estrondo que faziam os sinos tocando a rebate contra eles, com o fogo que recebiam de emboscada, com os apupados assobios, desafios e impropérios que de todos os pontos os habitantes daquelas freguesias lhes dirigiam reunidos em grupos e com tal entusiasmo que a todos metia espanto e ao inimigo tal terror que se não arriscou a bater os mais pequenos grupos.”

No entanto em 15 de Março, nova tentativa do conde de Vinhais sobre S. Martinho de Mouros é repelida.

No dia 16 de Março o jornal “A Estrela do Norte”, nº 61 tem uma notícia sobre este combate que diz:

O povo de S. Martinho de Mouros acaba de ganhar uma coroa cívica, mostrando à facção cabralista quanto podem homens que combatem por si e pela liberdade.
…/…
Dois dias investiram os janízaros com vigor os valentes populares de S. Martinho de Mouros e dois dias foram repelidos corajosamente.
…/…
Foram os dias 10 e 11 de Março de 1847, eles aí ficam registados para glória do brioso povo de S. Martinho de Mouros.

Em 16 de Março é divulgado um louvor ao Batalhão Nacional de Resende pela forma como se comportou nas acções de 10 e 11.

Uma notícia de 18 em “O Nacional” dá conta de que o capitão José da Cunha Mendes comandante da 1ª companhia havia sido ferido a tiro nessa acção e tinha-lhe sido amputado o braço esquerdo.

domingo, 6 de setembro de 2009

Um pouco de história (III)

As acções militares continuaram na zona, havendo da parte da Junta de Governo do Porto o interesse em manter ocupadas algumas forças cabralistas junto ao Douro de forma a evitar a junção com o exercito que o Marquês de Saldanha tinha em operações sobre o Porto.
O jornal “O Nacional” nº 50 de 3 de Março de 1847 transcreve um ofício para a Junta do Porto sobre acções sequentes às de Fevereiro, do seguinte teor:

Exmº Sr. De Santiago de Piães concelho de Sanfins oficiei a V. Exª a participar a minha marcha para aquele concelho a fim de rebater os rebeldes que se tinham pronunciado a favor da facção de Lisboa e das ocorrências das tropas do Lapa e do seu regresso para Lamego com data de 26 do próximo passado; e sendo ontem informado que as tropas do Lapa tinham evacuado aquela cidade e a Régua seguindo a direcção de Vila Real; ontem mesmo me pus em marcha para Lamego e tenciono podendo, ocupar aquela cidade e guarnecer a margem esquerda do Douro no sítio da Régua e Carvalho, fazendo passar os barcos para a dita margem a fim de impedir as comunicações e passagem do rio caso eles queiram retroceder. Os rebeldes do concelho de Sanfins depois de dispersos tratei de os desarmar e consegui fazer-lhes a apreensão de grande parte do armamento que tenho em meu poder e faço conduzir para lugar seguro. Por falta de tempo não posso oficiar a S. Exª o Ministro da Guerra e rogo a V. Exª disso o faça ciente.
Deus guarde a V. Exª, Pias de Cinfães 1 de Março de 1847 = Justiniano César Osório, administrador do concelho de S. Martinho de Mouros e tenente-coronel do batalhão de Resende

Em 5 de Março a Junta do Porto louva novamente a acção do tenente-coronel Justiniano Osório e do seu batalhão e em 6 é enviado um ofício relatando combates nas zonas de Resende, Rendufe e Mirão em que se chega a combater corpo a corpo. Nesse combate são libertados pelos cabralistas 4 soldados do regimento de infantaria 16 aprisionados antes pelo capitão da 2ª companhia José Joaquim Pinto da Fonseca.

O jornal “O Espectro” nº 30 de 9 de Março de 1847 (jornal dirigido por Rodrigues Sampaio) escreve, referindo-se a uma carta do Porto do dia 8:

“… O ex Marquês de Saldanha parou em Oliveira de Azeméis, donde ainda não avançou apesar de ter aí reunido… O Solla já fez a junção com ele e o Lapa passou à Régua e foi para Vila Real. Lamego foi logo depois ocupada pelo batalhão de Resende”.

Verifica-se assim que se cumpriram os desejos de Justiniano de Córdova e se havia ocupado Lamego.
Numa guerra deste tipo os intervenientes tinham como seu apenas o terreno que pisavam, pois
no jornal “O Nacional” nº 59 de 13 de Março 1847 estão noticiados novos combates na zona:

Quarta-feira (10 de Março) pelo meio-dia apareceu uma força do Lapa e do Vinhais em duas colunas, uma pela serra das Meadas e outra pelo rio Douro em direcção a S. Martinho de Mouros para bater as forças do valente Justiniano. Este, tendo conhecimento da sua aproximação tomou posições para os esperar no monte da Sª da Guia a leste de Resende e mandando uma força fazer-lhes fogo na frente e simular depois uma retirada com o fim de apanhar o inimigo numa emboscada, este longe de carregar foi tomar posição na capela do Senhor do Calvário. Vendo o nosso general patriota que o inimigo não caiu no laço ordenou que as suas forças marchassem a ataca-lo e com tal valor o fizeram que o inimigo teve que retirar até ao alto de Pardelhas onde tomou de novo posições e sustentou o fogo por espaço de duas horas e sendo flanqueado pela direita se viu forçado a retirar na direcção de Lamego perseguido sempre activamente pela força de Justiniano. A força inimiga era de 250 homens.”

No mesmo jornal nº 60 do dia 15 de Março, segunda-feira, informa-se que a acção prosseguiu com a perseguição do inimigo até à Régua e daí para Vila Real.

Dissemos na nossa folha de sábado as gentilezas que o valente Justiniano tinha feito da quarta feira; e agora que estamos informados do que passou depois disso não nos demoramos em publicá-lo para conhecimento e satisfação dos verdadeiros patriotas. Batidos os rebeldes e obrigados a retirar para Lamego no dia 10, voltaram no dia 11 a procurar o nosso Galamba do norte com toda a força que o Lapa e o Vinhais tinham a sul do Douro. Justiniano esperou-os e rompeu contra eles o fogo apenas eles se lhe apresentaram; mas aos primeiros tiros começaram os povos a tocar os sinos a rebate em todas as freguesias próximas do lugar da acção e tal medo concebeu o inimigo que imediatamente se pronunciou em retirada, mandando aviso à Régua para que lhe tivessem todos os barcos na margem esquerda do rio. Não se atrevendo a esperar em Lamego fugiu e passou para a Régua toda a força do Lapa e Vinhais e sem ali se demorar seguiu tudo na direcção de Vila Real, ficando o nosso Justiniano senhor de todo o terreno até Lamego onde provavelmente terá entrado. O inimigo deixou alguns mortos, um oficial e vários soldados prisioneiros, sem que da nossa parte houvesse grave perda.”

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Um pouco de história (II)

A unidade que Justiniano Osório organizara e comandava não passava de uma guerrilha que nunca terá ultrapassado os 300 homens na sua maioria pertencentes às freguesias de Paus donde era natural (lugar de Córdova) e S. Martinho de Mouros, a que a necessidade da Junta Governativa do Porto em enquadrar e coordenar o máximo de forças possíveis havia dado um certo ar de ligitimidade.
Então, já como unidade organizada, o primeiro combate de que temos notícia (terá de certeza havido outros até porque o comandante do corpo foi condecorado em 9/2/1847 por acções anteriores) tem lugar em 20/27 Fevereiro de 1847 e dele existe um ofício do seu comandante para a Junta do Porto, transcrito no jornal “O Nacional” nº 49 de 2 de Março de 1847, e que é do seguinte teor:

"Exmº Sr – levo ao conhecimento de V. Exª o ocorrido nos concelhos de Resende e S. Martinho de Mouros e participo a V. Exª os meus movimentos depois do embarque do Exmº General Povoas.
Logo que soube da marcha das tropas rebeldes para S. Martinho e Resende retirei para a margem direita do Douro percorrendo os concelhos de Baião e Bemviver enquanto toda a brigada de Lamego se conservou em Resende e S. Martinho de Mouros. Tive notícias no dia 24 que os rebeldes se tinham retirado para Lamego, estacionando ali o 9 de infantaria e mandando o 16 e cavalaria para a Régua e que o ex-administrador cabralista de Sanfins, Diogo Leite de Castro e alguns regedores tinham assumido aí a autoridade administrativa e tinham feito a revolução naquele concelho armando alguns seus facciosos e levando outro cidadão por violência, havendo as armas de Luís do Amaral e formando uma força com que foram atacar de noite as guardas do rio pertencentes ao batalhão de Bemviver. Julguei acertado ir bater aquela malta de ladrões antes que tomasse maior vulto e no dia 25 repassei o Douro e me dirigi a Santiago de Piães onde estavam reunidas comandadas pelo tal ex-administrador; não ousaram esperar-me e retiraram em debandada para as montanhas; ocupei depois as casas dos que tinham tomado armas pelos rebeldes e intimei a quem encontrei nelas para que no prazo de 24 horas me entregassem os armamentos e munições com ameaça de os tratar com todo o rigor que mereciam. Na noite fui atacado dos montes fazendo-me um pequeno tiroteio, julgo que com o fim de me intimidarem a ver se me retirava; pus a minha força em armas e disposição de resistência, mas ninguém se atreveu a aproximar-se; e estou resolvido a não retirar enquanto não apaziguar este concelho. Os inimigos em S. Martinho praticaram toda a qualidade de roubo e arbitrariedade e em tão grande número e tal excesso que parece impossível haver homens que assim se depravassem.
Aguardo as determinações de V. Exª e da Junta de Governo. Deus guarde a V. Exª, Quartel em Santiago de Piães 27 de Fevereiro de 1847 = Justiniano César Osório administrador do concelho de S. Martinho de Mouros e tenente-coronel do batalhão de Resende"


Em 9 de Fevereiro o tenente-coronel Justiniano é agraciado com o grau de Oficial da Ordem da Torre e Espada pelo seu comportamento.
No mesmo jornal e referindo-se eventualmente à acção descrita, vem uma notícia que diz:

"O digno tenente-coronel Justiniano César Osório do batalhão de Resende que tanto se tem distinguido na presente luta repassou o Douro para a margem esquerda com a força do seu comando, restabeleceu a autoridade legítima nos concelhos de Sanfins e Cinfães fazendo fugir os cabralistas e aos famigerados Serranos, capitães de malfeitores que fugiram em ceroulas e descalços tendo-lhes apreendido muitas armas."


Uma carta do cônsul inglês no Porto datada de 20 de Fevereiro de 1847 e dirigida ao seu governo e referindo-se à marcha da coluna do General Povoas diz:

O General Povoas vendo na sua chegada a Lamego que o conde de Vinhais se postara na Régua para lhe obstar a que atravessasse o rio marchou na noite de 17… pela estrada de S. Martinho de Mouros e passou o Douro. Na sua marcha juntou-se ao Justiniano que trazia uma guerrilha de alguns 300 homens.”
O Batalhão servia assim para manter abertas as ligações do Porto para o coração da Beira e controlar as duas margens do Douro.