terça-feira, 8 de setembro de 2009

Um pouco de história (IV)

Em 10 de Março um forte ataque das forças de Lisboa comandadas pelo coronel Lapa e pelo conde de Vinhais lançado da margem direita do Douro face ao lugar do Bernardo na freguesia de Barrô e outro pela serra das Meadas rumo a S. Martinho de Mouros, obriga o batalhão a ocupar estas localidades. O combate prossegue no dia 10 e de manhã combate-se no lugar de Vilar da dita freguesia de Barrô onde as forças governamentais são repelidas. A luta prossegue de tarde com as colunas do conde de Vinhais a atacar e ocupar o monte e capela do Senhor do Calvário. Depois de rijas lutas são desalojados e expulsos em direcção a Pardelhas. A luta prossegue com perseguições por parte do batalhão de Resende em direcção a Paus e Lamego.
O jornal "O Nacional" seguinte, nº 61 de terça-feira 16 de Março, podemos ler a seguinte noticia:

No sábado passado (13 de Março) de tarde depois da chegada do Vinhais à Régua, projectou este bater, surpreender e derrotar o Córdova (o tenente coronel Justiniano era natural do lugar de Córdova na freguesia de Paus do então concelho de S. Martinho de Mouros como já se disse) pelo que fez descer pelo rio abaixo uma força de linha e marchar de Lamego e Portelo a força do Marçal, caçadores, clavineiros e alguns cavalos em diferentes direcções ao sítio onde o Justiniano se achava que era o mesmo que antes ocupava. Este teve logo aviso deste movimento e esperou-os acautelado e julgando muita gente que lhe era impossível uma retirada sem muito risco porque parecia flanqueado e cortado pela força que desceu pelo rio, não sucedeu assim, mas pelo contrário os bateu e fez retirar vergonhosamente. Primeiro que tudo veio atacar a força ao rio que pôs em precipitada retirada e depois foi atacar em S. Martinho a que tinha saído por Lamego e Portelo à qual fez o mesmo favor, trazendo-os até perto de Lamego debaixo de fogo durando todo este acontecimento uma tarde e quase um dia”

Mas demos a palavra ao comandante da força em ofício dirigido ao chefe de Estado Maior no Porto e constante do jornal “O Nacional” nº 62 de quarta feira 17 de Março:

Exmo Senhor – Levo ao conhecimento de V. Exª que no dia 9 do corrente o Ilustríssimo Senhor Júlio do Carvalhal ordenou que no dia 10 ao amanhecer ocupasse a parte do Moledo para o coadjuvar na sortida sobre a Régua: e não podendo comparecer na hora indicada por me não ter sido entregue o dito ofício senão às 10 horas do dia 10, resolvi assim mesmo, ainda que tarde, marchar para aquele ponto: cheguei às 11 horas ao sítio do Bernardo e sabendo aí que a sortida já se havia feito e as forças fiéis já se haviam retirado para Amarante, fiquei indeciso sobre o destino a seguir: fiz alto naquele lugar e avistando dali nas eminências de Santa Marinha as forças do Vinhais que caminhavam sobre Mesão Frio retrocedi para o lugar de Barrô onde pernoitei a distância de três quartos de légua da força inimiga. No dia 11 recebendo parte que o Vinhais destacara forças para a margem direita do Douro a operar sobre os barcos, tomei a posição da Massorra(?) donde pudesse orientar-me acerca das operações do inimigo: e recebendo ali noticia de que 200 soldados inimigos de infantaria 9, caçadores 2 e clavineiros haviam passado para a margem esquerda no mesmo sítio do Bernardo com vistas de me atacarem e ouvindo pouco depois romper o fogo junto ao lugar de Vilar com soldados meus que andavam fazendo reconhecimentos, cuidei logo de dividir toda a minha força que ali se achava em número de 150 – em três pelotões – mandando o primeiro comandado pelo capitão José da Cunha Mendes da primeira companhia atacar pela frente ao inimigo, mandei o segundo comandado pelo tenente António Cândido Vieira da segunda companhia a servir de reserva e conservei o terceiro de meu comando com o fim de ocupar aquela posição por onde os inimigos retirassem. Junto á igreja de S. Martinho de Mouros pelas 3 da tarde principiou um vivo fogo com o primeiro pelotão o qual dividindo-se em flancos pode ganhar a boa posição em que se encontrava o inimigo pondo-o em completa e vergonhosa fuga sofrendo um aturado tiroteio dos meus valentes que os seguiram corajosamente em distância de uma légua até que durou o dia. Acabado o fogo vim com a minha força do Alto da Mesquitela até onde chegamos a pernoitar em S. Martinho conservando-me ali até às 3 horas da manhã em que recebi a noticia que Vinhais, Lapa e Marçal tentavam atacar-me com todas as suas forças tomei nova posição no povo do Bairro a distância de um quarto de légua para a retaguarda e ali me conservei até às 7 horas da manhã e recebendo ali as noticias de que o inimigo se aproximava, me preparei para o bater e logo que o avistei no sítio do Calvário em número pouco mais ou menos de 250 soldados de linha e 30 cavalos, me aproximei a eles quase em distância de tiro de bala com toda a força do meu comando, tendo-se-me a ela anexado as forças de Resende e Aregos. Porém recebendo a notícia confidencial que um capitão do 9 de infantaria com 100 praças e 10 cavalos tinha seguido de Lamego a caminho de Feirão com vistas de me cortar a retaguarda ordenei a retirada com propósito de bater primeiro esta força do que a da frente se primeiro a encontrasse o que não consegui porque chegando ao lugar de Passos no concelho de Resende aí soube que o inimigo informado dos meus planos e que em virtude dele não poder cortar-me voltara para Lamego do que tudo fui ciente assim como que as forças da frente tinham caminhado às 3 da tarde para a freguesia de Paus e que os generosos habitantes meus patrícios e vizinhos lhes tinham feito fogo de emboscada, parti imediatamente para os atacar chegando a horas, ou surpreende-los de noite aproveitando o perfeito conhecimento que tinha das povoações e do bom espírito que as animava, o que não pude conseguir por se terem retirado vergonhosamente com o estrondo que faziam os sinos tocando a rebate contra eles, com o fogo que recebiam de emboscada, com os apupados assobios, desafios e impropérios que de todos os pontos os habitantes daquelas freguesias lhes dirigiam reunidos em grupos e com tal entusiasmo que a todos metia espanto e ao inimigo tal terror que se não arriscou a bater os mais pequenos grupos.”

No entanto em 15 de Março, nova tentativa do conde de Vinhais sobre S. Martinho de Mouros é repelida.

No dia 16 de Março o jornal “A Estrela do Norte”, nº 61 tem uma notícia sobre este combate que diz:

O povo de S. Martinho de Mouros acaba de ganhar uma coroa cívica, mostrando à facção cabralista quanto podem homens que combatem por si e pela liberdade.
…/…
Dois dias investiram os janízaros com vigor os valentes populares de S. Martinho de Mouros e dois dias foram repelidos corajosamente.
…/…
Foram os dias 10 e 11 de Março de 1847, eles aí ficam registados para glória do brioso povo de S. Martinho de Mouros.

Em 16 de Março é divulgado um louvor ao Batalhão Nacional de Resende pela forma como se comportou nas acções de 10 e 11.

Uma notícia de 18 em “O Nacional” dá conta de que o capitão José da Cunha Mendes comandante da 1ª companhia havia sido ferido a tiro nessa acção e tinha-lhe sido amputado o braço esquerdo.

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