quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Um pouco de história (II)

A unidade que Justiniano Osório organizara e comandava não passava de uma guerrilha que nunca terá ultrapassado os 300 homens na sua maioria pertencentes às freguesias de Paus donde era natural (lugar de Córdova) e S. Martinho de Mouros, a que a necessidade da Junta Governativa do Porto em enquadrar e coordenar o máximo de forças possíveis havia dado um certo ar de ligitimidade.
Então, já como unidade organizada, o primeiro combate de que temos notícia (terá de certeza havido outros até porque o comandante do corpo foi condecorado em 9/2/1847 por acções anteriores) tem lugar em 20/27 Fevereiro de 1847 e dele existe um ofício do seu comandante para a Junta do Porto, transcrito no jornal “O Nacional” nº 49 de 2 de Março de 1847, e que é do seguinte teor:

"Exmº Sr – levo ao conhecimento de V. Exª o ocorrido nos concelhos de Resende e S. Martinho de Mouros e participo a V. Exª os meus movimentos depois do embarque do Exmº General Povoas.
Logo que soube da marcha das tropas rebeldes para S. Martinho e Resende retirei para a margem direita do Douro percorrendo os concelhos de Baião e Bemviver enquanto toda a brigada de Lamego se conservou em Resende e S. Martinho de Mouros. Tive notícias no dia 24 que os rebeldes se tinham retirado para Lamego, estacionando ali o 9 de infantaria e mandando o 16 e cavalaria para a Régua e que o ex-administrador cabralista de Sanfins, Diogo Leite de Castro e alguns regedores tinham assumido aí a autoridade administrativa e tinham feito a revolução naquele concelho armando alguns seus facciosos e levando outro cidadão por violência, havendo as armas de Luís do Amaral e formando uma força com que foram atacar de noite as guardas do rio pertencentes ao batalhão de Bemviver. Julguei acertado ir bater aquela malta de ladrões antes que tomasse maior vulto e no dia 25 repassei o Douro e me dirigi a Santiago de Piães onde estavam reunidas comandadas pelo tal ex-administrador; não ousaram esperar-me e retiraram em debandada para as montanhas; ocupei depois as casas dos que tinham tomado armas pelos rebeldes e intimei a quem encontrei nelas para que no prazo de 24 horas me entregassem os armamentos e munições com ameaça de os tratar com todo o rigor que mereciam. Na noite fui atacado dos montes fazendo-me um pequeno tiroteio, julgo que com o fim de me intimidarem a ver se me retirava; pus a minha força em armas e disposição de resistência, mas ninguém se atreveu a aproximar-se; e estou resolvido a não retirar enquanto não apaziguar este concelho. Os inimigos em S. Martinho praticaram toda a qualidade de roubo e arbitrariedade e em tão grande número e tal excesso que parece impossível haver homens que assim se depravassem.
Aguardo as determinações de V. Exª e da Junta de Governo. Deus guarde a V. Exª, Quartel em Santiago de Piães 27 de Fevereiro de 1847 = Justiniano César Osório administrador do concelho de S. Martinho de Mouros e tenente-coronel do batalhão de Resende"


Em 9 de Fevereiro o tenente-coronel Justiniano é agraciado com o grau de Oficial da Ordem da Torre e Espada pelo seu comportamento.
No mesmo jornal e referindo-se eventualmente à acção descrita, vem uma notícia que diz:

"O digno tenente-coronel Justiniano César Osório do batalhão de Resende que tanto se tem distinguido na presente luta repassou o Douro para a margem esquerda com a força do seu comando, restabeleceu a autoridade legítima nos concelhos de Sanfins e Cinfães fazendo fugir os cabralistas e aos famigerados Serranos, capitães de malfeitores que fugiram em ceroulas e descalços tendo-lhes apreendido muitas armas."


Uma carta do cônsul inglês no Porto datada de 20 de Fevereiro de 1847 e dirigida ao seu governo e referindo-se à marcha da coluna do General Povoas diz:

O General Povoas vendo na sua chegada a Lamego que o conde de Vinhais se postara na Régua para lhe obstar a que atravessasse o rio marchou na noite de 17… pela estrada de S. Martinho de Mouros e passou o Douro. Na sua marcha juntou-se ao Justiniano que trazia uma guerrilha de alguns 300 homens.”
O Batalhão servia assim para manter abertas as ligações do Porto para o coração da Beira e controlar as duas margens do Douro.

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