quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Um pouco de história (V e último)

Em 25 de Abril novos combates referidos em comunicado assinado no quartel em Barrô, combates esses que se sucederam entre a barca do Carvalho, Molães na Penajóia e a igreja de Barrô.
Nesse comunicado são louvados o capitão da 2ª companhia José Joaquim Pinto da Fonseca, o tenente António Cândido Xavier e os alferes Vitorino Pinto (ferido) e José Pereira Pinto. É também louvado o voluntário Joaquim Rodrigues Soldadinho.

Vejamos o relatório do comandante das forças de acordo com o “Nacional” nº 102 de 6 de Maio de 1847:

Ilº e Exmº Senhor – Tenho a honra de levar ao conhecimento de V.Exª que tendo-me dirigido e pernoitado em Molães da Penajóia com as forças do meu comando no destino de colher informações exactas e cair de surpresa sobre o piquete que os rebeldes haviam postado na barca do Carvalho achando-me ainda acampado entre a serra de Barrô e a igreja de Santo António da Penajóia pressenti o fogo dos meus piquetes sobre o inimigo que marchava em grande força sobre mim tendo premeditado e tomado mesmo todas as convenientes medidas para me cortar ambos os flancos, sem perda de um momento mandei carregar o inimigo na ala direita e esquerda enquanto que fiz retirar o centro para lhe tomar a frente e habilitar-me para o combate que já era inevitável tanto para salvar o piquete como para facilitar a passagem às tropas fieis que do meu arraial estava vendo marchar sobre a estrada da Régua. Por espaço de ¾ de hora 200 homens livres disputaram o terreno a 500 escravos e 50 cavalos comandados pelo Casal, mas conhecendo logo a grande desproporção de forças e vendo que a coluna de tropas fieis não desfilava sobre a margem do Douro em meu auxílio mandei tocar a retirar e efectivamente retirei sobre a igreja de Barrô fazendo sempre o mais vivo fogo ao inimigo que pagou caro a sua ousadia perdendo alguns mortos e muitos feridos que fez conduzir à cidade de Lamego bem como alguns cavalos .A todos parecia inevitável a perda do batalhão de Resende que o ex Barão do Casal prometera agarrar á mão assim como fizera aos móveis dos pacíficos habitantes de Agrela e Vilarandelo mas eu posso afirmar a V.Exª que apenas tive um soldado morto e um oficial ligeiramente ferido no braço esquerdo. O fogo durou 2 horas (mais ou menos) durante as quais as forças do meu comando mostraram o mais vivo entusiasmo sendo superior a quanto pode imaginar-se a valentia denodo e coragem dos meus oficiais que todos foram soldados, todos largaram as espadas para tomar a espingarda e todos fizeram os maiores serviços já animando os soldados já fazendo vivo fogo ao inimigo. São especialmente de louvar o capitão da 2ª companhia José Joaquim Pinto da Fonseca, o tenente António Cândido Xavier, os alferes Vitorino Pinto (ferido) e José Pereira Pinto e o voluntário Joaquim Rodrigues Soldadinho.
Quartel em Barrô 25 de Abril de 1847 = Justiniano César Osório administrador do concelho de S. Martinho de Mouros e tenente-coronel do batalhão de Resende."

A partir daqui as notícias nos jornais do Porto escasseiam. A intervenção da Quadrupla Aliança com a entrada em Portugal das tropas espanholas em auxílio do governo, a detenção pela esquadra inglesa do Conde das Antas presidente da Junta do Porto, a convenção de Gramido que pôs termo à guerra civil ocuparam mais a atenção dos jornais que algumas (poucas) acções militares. Seguiram-se, como sempre lutas de vingança entre vencidos e vencedores, mas essas já não eram do interesse da imprensa.

Mas este último relatório de Justiniano Osório acaba por entroncar na minha família. O voluntário Joaquim Rodrigues Soldadinho pertencia à família de minha trisavó materna Maria Clara Rodrigues nascida em Córdova, Paus em Junho de 1817.

Voltas que o mundo dá.


3 comentários:

  1. Deparei-me hoje com o seu blog que muito apreciei. Será possível o seu Joaquim Rodrigues Soldadinho ter sido parente de Justiniano Osório?
    Era de seu nome Justiniano César Osório, mas era filho de Alexandre Rodrigues Osório, todos de Córdova, tal como a sua trisavó Maria Clara Rodrigues. Seria interessante, não?

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    1. Não creio. Estudei a minha familia e não encontrei ligações. Como deve ter reparado Justiniano Cesar Osório foi administrador do concelho de S. Martinho de Mouros e enquanto tal comandante do Batalhão de Resende na guerra da Patuleia, nomeado pela Junta do Porto.Para além das acções na zona, tomou parte no combate de Valpaços com o marquês de Sá da Bandeira e depois da convenção de Gramido abandonou as armas e foi por diversas vezes administrador do concelhode Resende. Morreu no Porto (S Ildefonso) em 1861. Recentemente saiu um livro do Sr Padre Correia Duarte, salvo erro "O Douro em Chamas" que de forma romanceada fala da familia de Justiniano.

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  2. Caro amigo, desculpe-me o abuso, presumo que tenha recolhido esta notícia também. No caso de tal lhe ter escapado, aqui vai:
    "... merecendo particular e honrosa distinção o capitão da 1ª companhia José da Cunha Mendes, e o alferes proposto Victorino Pinto Ribeiro, o sargento Alexandre José de Almeida, e o voluntário JOAQUIM RODRIGUES SOLDADINHO, e o popular José Cardoso Ranta, não só pela perícia que os primeiros mostraram na direcção das forças que mandavam, mas também pela coragem e valor com que na frente seguiam o inimigo, convidando-os em altas vozes por mais do que uma vez que esperassem a acção, e que não fossem covardes, por cujo motivo exigia da exma. Junta, que os serviços destes homens fossem tomados em consideração, e condecorados em prémio de seus merecimentos.
    (...) Quartel em S. Martinho de Mouros (...) Justiniano C. O.

    Do Jornal "O Nacional" nº 62 de 17/03/1847

    Belíssimo livro "O Douro em Chamas"!, O autor está de parabéns pelo enredo, humanização dos personagens e retrato de uma época e sobretudo por devolver à vida "os nossos mortos" já esquecidos e as dificuldades por que todos eles passaram. Hoje, sentados aqui em frente a um computador ou à televisão, tão longes das nossas origens, confortáveis na nossa "vidinha", esquecemo-nos muitas vezes que a eles e ao que passaram, lha devemos. A todos. Todos merecem que os seus nomes sejam pronunciados - serem bem mais do que um rosto numa fotografia antiga, de quem já não sabemos o nome.Devemos fazê-lo não só por eles mas também por nós, para não esqueçamos de onde viemos e quem eram as suas gentes.

    Acima de tudo, devemos fazê-lo pelos que hão-de vir.

    Um abraço

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